Editorial: A epopeia de um grande adormecido
Chegou o tão esperado dia para o torcedor do Villa Nova, o dia do acesso para a primeira divisão de Minas Gerais, um sonho que parecia distante em meados de Abril, mas que foi tomando corpo e se tornando palpável com a entrada da brava equipe alvirrubra em campo, que incorporou o espírito de ser Leão e desafiou a lógica!
Mas para que essa brava equipe pudesse entrar em campo, o Villa, um gigante de Minas, atrás apenas de Cruzeiro, Atlético e América em termos de história/títulos/relevância, teve que protagonizar uma verdadeira epopeia em questão de meses para poder assegurar a sua sobrevivência em um ano tão sofrido para o bravo Leão do Bonfim. Uma epopeia é caracterizada por ser uma sucessão de eventos extraordinários, ações gloriosas, retumbantes, capazes de provocar a admiração, a surpresa, a maravilha, a grandiosidade da epopeia. Essa história é narrada por um Leão machucado que olhava no espelho e via o reflexo dos seus grandes feitos, um dia já foi o melhor de seu estado, provocando medo nos maiores rivais, conquistando títulos estaduais e também nacionais, mas que hoje vive apenas de memórias de um passado distante que não parecia voltar mais, agonizando por uma salvação!
O ano do Villa se iniciou no dia 02 de janeiro de 2021, a nova Diretoria Executiva que era composta por Bruno Sarti, Claúdio Horta e o vereador Tiago Tito (que nesse momento se encontra preso por rachadinha e entre outros motivos) foi eleita com a maioria esmagadora dos votos, derrotando Nélio Aurélio e Herchel Alberto. Em seu discurso, Bruno foi realista e frisou que o primeiro passo de uma reconstrução seria o retorno para a elite mineira, para todos na época uma questão de obrigação, pela história do clube, mas também pelo alto valor passado pela Prefeitura anualmente, valor esse passado por meio de uma subvenção. E é aí que surge o estopim de um ano tão sofrido, o Prefeito João Marcelo que antes havia prometido a subvenção para essa Diretoria momentos antes da eleição acontecer, decidiu não liberar a verba visto os vários imbróglios que rondavam esse assunto, os motivos liberados para a imprensa foram: 1. O Villa Nova não apresentava as certidões necessárias para receber os recursos; 2. Há pendências de prestação de contas dos anos anteriores; 3. Haveria desvio de finalidade no repasse da subvenção, visto que parte relevante dos recursos seria retida pela justiça para o pagamento de dívidas do clube; 4. Há inquérito civil público em curso no Ministério Público para averiguar a legalidade dos repasses feitos nessas circunstâncias.
Por mais que fosse tentado a assinar a liberar a verba para o clube de sua cidade, o jovem prefeito realmente não poderia colocar seu primeiro mandato e liberdade em risco por conta da subvenção, um motivo totalmente compreensível. O que ficou extremamente desconfortável foi a promessa quebrada, quando não era obrigado a fazê-la, talvez tenha faltado um jogo de cintura melhor, mas enfim a verba infelizmente não poderia ser liberada ao Villa, não era justo com a Diretoria que acreditou na palavra do governante, mas não era também justo com João, Pedro e outros colocar toda uma questão legal e ética debaixo dos panos, para poder liberar milhões para o clube.
Para quem não acompanha o time, a subvenção é estabelecida no valor de 2,5 milhões de reais, e é de longe a principal verba do clube anualmente, superando qualquer tipo de patrocínio, um valor altíssimo, provavelmente sendo um dos maiores tipos de apoio municipal de uma cidade para um clube de futebol no país. É também chocante saber que mesmo que parte do valor seja retido pela justiça para dívidas, o clube se encontrar na situação atual , devendo Deus e o mundo, sem divisão nacional e ainda conseguindo ser rebaixado no cenário estadual. Tudo isso frutos de gestões temerárias, que trataram o Villa de forma chula e com pouca importância. Então a Diretoria se viu em um cenário de caos, dívidas, sem um centavo em conta, sem patrocínios, fadado a fechar as portas.
Na grande imprensa, como Globo, Tv Alterosa e entre vários sites, saia matérias diariamente falando sobre o eminente fim do Villa Nova, e uma esperança final de algum investidor ou uma junção de patrocínios. Por mais que o Villa corresse atrás, nada parecia melhorar o cenário. Chegou a até aparecer uma salvação, o famoso Pedrinho BH, as conversas chegaram a avançar, inclusive com reuniões no Castor Cifuentes, mas aparentemente por não ter uma dívida definida ou considerada alta, o empresário não quis assumir o time.
Então quando muitos torcedores começavam a desanimar de vez, entra a figura de João Marcelo, em conjunto com várias pessoas influentes em Minas Gerais, como o apaixonado Emanuel Carneiro, João Vitor Xavier, e demais participantes que fizeram parte de uma força tarefa para salvar o Leão, os cabeças ficaram na linha de frente para conseguir uma parceria com o Coimbra, uma parceria nunca vista antes no mundo do futebol. O Coimbra não emprestaria somente jogadores, mas quase tudo, como estrutura, funcionários, logística de viagens, tudo que fosse essencial para o Villa disputar a competição. Para uma parceria desse calibre sair, é necessário muita influência, força política, e simplificando em uma linguagem mais simples, o famoso Networking , não é qualquer um que pode ir na porta do Hissa e Ricardo Guimarães e pedir algo desse tamanho. E ela saiu sim do papel e entrou em prática, o Villa antes fadado a fechar as portas, agora teria uma chance de recomeçar.
Em várias entrevistas, Hissa disse ter ficado impressionado, pois ele nunca tinha visto uma comoção tão grande em torno de um objetivo, que era salvar o Villa. Revelou também a insistência de seu amigo Emanuel Carneiro para que aceitasse a proposta do projeto. Ninguém é dono da verdade, porém, se essa parceira não tivesse acontecido, provavelmente não teria esse texto, não teria time, não teria nada, o cenário era desolador e continua sendo para a Diretoria Executiva que não tinha culpa da bomba que havia assumido. O que não dá para ignorar é que sem essas pessoas importantes, não estaríamos comemorando nada, por mais que muitos cães de guarda babem de raiva (muito talvez pela falta de uma medicação adequada) e relutem para aceitar a realidade.
Com o time montado, ainda chegou a surgir dúvidas se os jogadores realmente iriam honrar a camisa, já que estariam sendo emprestados, um time inteiro emprestado na verdade, mas se tratavam apenas de achismos, dentro de campo foi provado totalmente ao contrário. Durante esse meio tempo de preparação para o Módulo II, a Diretoria do Leão teve que correr atrás para ajudar nos gastos, já que o Coimbra cedeu tudo em troca, então nada mais justo que boa parte do dinheiro que entrasse nos cofres do Leão fossem destinados para as despesas.
No dia 3 de Julho se iniciou a batalha do Villa, em um confronto contra o modesto União Luziense em Santa Luzia, ao marcar o gol da vitória por 1×0, o atacante Mateus Oliveira disparou para as câmeras “Vamos fazer história nessa p*rra”. E ele estava totalmente certo, todos os jogadores que vestiram a camisa do Leão nesse campeonato foram extramente raçudos e dedicados, compraram a ideia de salvação de um time tão tradicional de Minas Gerais. O campeonato foi andando e tudo dava certo para o Villa, com grandes atuações, principalmente dentro de casa, o bravo Leão disparou na tabela e conseguiu a classificação para a fase final com muita imposição! Todos os jogos com vitória foram marcantes, mas ganhar em casa na segunda rodada com dois jogadores a menos frente o Democrata de Valadares mostrou que o espirito do elenco era de vencedores e de guerreiros!
No Quadrangular Final, a derrota na estréia por 2×0 contra o Democrata-GV deu um baque, o futebol não é justo, muito pelo contrário, muito ingrato às vezes, mas o começo ruim não foi o suficiente para abater o grande time do Villa Nova que se recuperou e trouxe o mais importante para um clube que precisava a qualquer custo voltar a elite, o acesso! No meio de tantas batalhas, o pênalti defendido por Glaycon contra o artilheiro Joãozinho aos 37 do 2° tempo na 4° rodada foi o sinal de que daí em diante nada tiraria a glória que aguarda o Villa no fim do campeonato.
Por mais que muitos torcedores de outros times tenham zoado o Villa pelo fato de o time ser praticamente na visão deles um Coimbra de roupa vermelha, a verdade é que sim, o Leão foi ajudado de uma forma que como foi dito antes, nunca visto antes na história do futebol brasileiro, porém essa ajuda só veio graças ao tamanho e relevância do Villa Nova. Se fosse qualquer outro time de Minas Gerais fora os grandes de BH em situação semelhante, a história teria sido diferente, as portas teriam sido fechadas com um cadeado de sete chaves. O Coimbra sim tem uma certa tendência de emprestar jogadores em grande escala para outros times, mas não foram apenas jogadores, foi tudo que um departamento de futebol precisa para poder possa funcionar! Então ao invés de ser um motivo de vergonha, o ato do time do Contagem mostra que o Villa é muito mais que um clube afundado em dívidas e que só dá vergonha para a sua cidade como muitos ainda insistem em dizer. O Villa sempre levou Nova Lima com muito orgulho no peito, o Leão é muito mais do que o senso comum espalhado por meia dúzia de falastrões que só abrem a boca pra criticar uma instituição que já se encontra fragilizada! O Villa é grande e crucial para a história do futebol mineiro, fato esse que foi provado mais uma vez esse ano.
Por fim, essa epopeia protagonizada por um grande adormecido que busca os trilhos para voltar ao que um dia chegou a ser, mostra que o futebol é uma caixinha de surpresas. Os torcedores do Villa que sofreram tanto nesses 9 meses podem dormir tranquilos, o Leão está de volta ao lugar de onde nunca deveria ter saído! Um clube que tem 113 anos de história, o primeiro clube de Minas a entrar em campo, o mais vitorioso fora de Belo Horizonte, um verdadeiro pioneiro não merecia ter sua história finalizada dessa forma. Que aqueles que colocaram o Villa nessa situação possam pagar pelo o que feito, e que aqueles que estão na frente do clube possam ter sabedoria para mais um ano complicado que vem pela frente!
UM ANO MARCADO NA HISTÓRIA, COM UM DESFECHO SENSACIONAL, COM PESSOAS SENSACIONAIS, PARA UMA TORCIDA SENSACIONAL!
O VILLA NÃO MORREU NEM MORRERÁ, DEIXA A DANADA DA LÍNGUA DO POVO FALAR!
