segunda-feira, maio 20, 2024
2022COLUNAEntrevistasNotícias

Em 1997, o Villa Nova mostrava novamente o seu verdadeiro valor ao futebol mineiro

Em uma campanha inesquecível e com uma final que vai estar sempre nos livros dos recordes, o Leão rugiu novamente e mostrou que não deve ser subestimado.

O futebol para os times que não são considerados grandes é muito mais cruel do que podemos imaginar, com elencos modestos e pouco apoio financeiro fica difícil manter uma constância de bons resultados e os torcedores dessas equipes sabem muito bem disso, não é todo ano que vai ser um ano inesquecível ou um ano recheado de títulos. Na verdade é muito pelo contrário, é normal para essas equipes ficarem anos sem ganhar troféus ou não ficar no auge por muito tempo. O torcedor do Villa Nova sabe muito bem o que é passar por isso, o Leão é considerado pela maioria esmagadora um dos maiores times mineiros, atrás apenas em questão de títulos e grandeza histórica dos times de Belo Horizonte. O Villa já teve seu auge, quando dominou o futebol mineiro na década de 30, era um dos times mais temidos do Brasil. Hoje, o Leão se encontra sem divisão nacional, buscando forças nos braços de seus bravos torcedores para voltar a figurar entre as melhores equipes do país. Muito se fala dos feitos do Leão do Bonfim em Minas Gerais, como o tetracampeonato mineiro ou a histórica conquista da Série B de 1971 porém a nostalgia toma conta quando o ano de 1997 entra na parada.

Mas o quê o Villa ganhou em 97? Na teoria apenas o troféu do Vice-Campeonato Mineiro e o do Campeão do interior, já na prática os frutos daquela campanha histórica são colhidos e lembrados até hoje diante de tudo que foi envolvido. Quando se fala do Campeonato daquele ano, as pessoas só se lembram da final com o recorde de público e do Cruzeiro Esporte Clube que após empatar no agregado por 2×2 com o Villa foi campeão por ter a melhor campanha. Mas o que também deve ser lembrado é de um bravo time, longe dos holofotes da mídia que lutou muito para chegar até ali e que acima de tudo, deixou sua cidade orgulhosa, naquele ano Nova Lima abraçou o Leão como um pai abraça um filho após um longo período longe de casa. O recorde só foi estabelecido também graças aos milhares de torcedores Villanovenses que estavam lá naquele dia, sem medo de errar havia mais de 25mil torcedores do Villa no Mineirão que saíram de diversos lugares (Principalmente de Nova Lima) para ver o time jogar uma final de Campeonato Mineiro.

Muitas pessoas ainda insistem em falar “Mas só 25mil?” Como assim “Só”? em uma cidade que na época não tinha 80mil habitantes, mais de 1/4 de um município estava em um estádio de futebol para apoiar uma equipe local com história própria que não foi criada pela mídia estadual. Um feito que poucos times nesse país conseguiriam realizar caso tivessem a oportunidade. Muitas pessoas falam daquele ano com propriedade, e uma delas é Wagner Augusto, historiador do Villa Nova e um dos maiores historiadores do estado de Minas Gerais quando o assunto é futebol, em entrevista ao Portal, Wagner relembra os momentos daquela campanha.

Wagner, porquê a campanha de 1997 é tão simbólica para o torcedor Villanovense? O que você acha que fez a cidade abraçar o time de uma forma que fizesse o time ter uma campanha histórica?

O ano de 1997 marcou a confirmação do ressurgimento do Villa no cenário do futebol mineiro. Três anos antes havia ocorrido o primeiro rebaixamento da história do clube. Em 1995 o Villa conseguiu o acesso, como campeão. Fez uma boa campanha em 1996 e se firmou definitivamente com o vice-campeonato de 1997.

A cidade sentiu esse clima de renascimento e abraçou o clube. Na tarde de 22 de junho de 1997 Nova Lima era uma cidade deserta! Ninguém nas ruas! Todos estavam ou no Mineirão ou em frente à TV.

Como historiador, você acha que muito dos torcedores que restam do Leão hoje se deve a essa campanha?

A campanha de 1997 teve influência na captação de jovens torcedores. Isso é inegável. Até hoje, 25 anos depois, alguns jogadores daquele time têm status de ídolos, tais como Milton, Kal Baiano, Adão e Cláudio Santos. Mas a composição da torcida do Villa é mais ampla. Afinal de contas, são praticamente 114 anos de história, jogando de modo ininterrupto.

Dentro de campo, o que você considera que foi crucial para que o time desse liga e conseguisse vencer jogos enormes, como as partidas contra Cruzeiro e Atlético no Alçapão na reta final?

Aquela arrancada teve a ver com os mistérios do futebol. O Villa fez uma campanha apenas regular na primeira fase. Empatou demais e se classificou apenas em oitavo lugar, entre 12 participantes. Pegou o Atlético nas quartas de final e venceu por 3×1, de virada, em Nova Lima. A partir daí o time engrenou e por pouco não foi campeão. O curioso é que o Leão enfrentou o Cruzeiro quatro vezes em 1997: venceu duas, perdeu uma e empatou uma partida (2×1, 2×1, 4×4 e 0x1).

Podemos dizer que o futebol mudou muito de de 1997 até os dias atuais, você acha que é possível o Villa chegar a uma final de Campeonato Mineiro novamente?

Esse modelo associativo está completamente superado. O Villa, assim como 99% dos clubes brasileiros, foi destruído por administrações temerárias. O patrimônio físico foi completamente destruído e existe um grande passivo trabalhista. Desde 2021 estamos trabalhando com muito empenho para manter o clube com as portas abertas e encontrar um caminho sustentável. Se conseguirmos, o Villa poderá sonhar com voos mais altos.

Você estava lá na final naquele dia? Qual era o sentimento?

Eu era um dos cerca de 30.000 villa-novenses presentes no Mineirão naquela tarde. Apesar de saber das dificuldades, sonhava com o título. Mas o técnico Brandãozinnho teve uma parcela grande de culpa naquela derrota. Ele tinha a mania de sair tarde da concentração. O ônibus do Villa pegou um trânsito infernal e chegou atrasado ao estádio. Foi um corre-corre danado e os atletas não tiveram a tranquilidade necessária para fazer o aquecimento. Entraram desconcentrados no jogo. O Villa levou o gol logo aos 8 minutos do primeiro tempo! E não teve forças para reagir. De qualquer forma, foi um feito histórico.

Wagner ainda lembra que a FMF por um erro entregou o troféu de campeão ao Villa, que depois devolveu ao Cruzeiro.

1997 é um ano que sempre será lembrado por tudo que representa, não só pelo recorde de público, mas principalmente pelo orgulho de voltar a ver o Villa Nova figurando como um dos protagonistas do futebol mineiro, lugar onde sempre deve estar. O Leão contribuiu muito para o desenvolvimento do futebol de Minas e deve ser valorizado por isso, em 97 o Villa mostrou que o futebol existe sim fora dos holofotes da TV, em estádios acanhados, construídos com muito amor e carinho. O Villa Nova é imortal e seus guerreiros de 1997 também são.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *